O Império contra-ataca (na fotografia versus IA)
Há muito, muito tempo, numa galáxia nem tão longe assim, havia uma empresa chamada Kodak, que era sinônimo de fotografia e inovação. Em sua longa história, a empresa foi a criadora do primeiro filme de rolo (que Thomas Edson ajustou o formato, reduzindo de 40 mm para os famosos 35 mm), do primeiro modelo de câmera de bolso, do primeiro filme em cores (o Kodachrome, alguém lembra dele? Com Eastmancolor!!), da primeira câmera digital feita em 1975 (cujo protótipo foi engavetado) e da primeira câmera DSLR com cartão de memória. E mesmo assim, afundou completamente pois subestimou o digital, considerou que tudo o que não tinha a ver com o uso de filme era um nicho muito específico, e por mais que lançasse alguns produtos de vanguarda, não acompanhou a mudança dos tempos. Foi engolida pelos concorrentes e pelo celular. Mas a triste história da Kodak e sua relação com as mudanças tecnológicas deixou lições importantes para os atuais donos da bola do mercado de fotografia. O surgimento de diversas ferramentas de geração e correção de imagens por Inteligência Artificial acendeu um alerta nos maiores fabricantes de câmeras do planeta. Leica toma a frente… Tudo começou na Leica – a fabricante austríaca do sonho de consumo de qualquer fotógrafo – que lançou em outubro de 2023, o modelo M11-P, considerada a primeira máquina Anti-IA. Ela atrela Credenciais de Conteúdo às fotos tiradas, ou seja, ela garante a autenticidade da imagem fotografada e atesta que a foto é real e sem manipulações. Só que até aí, uma Leica custa no mínimo US$ 7000 e a notícia não causou tanto furor assim. … mas os japoneses não ficam atrás! Só que nos estentores do ano passado, mais precisamente em 30/12, as três empresas japonesas que detém 90% do mercado mundial de fotografia, a saber, Nikon, Canon e Sony, anunciaram que se uniram e até o fim deste ano terão o mesmo recurso em todos os modelos profissionais mirrorless que fabricarem. E mais, segundo o Asia Nikkei, essa aliança entre os fabricantes de câmeras também lançará uma ferramenta na web chamada Verify para verificar imagens gratuitamente. Se uma imagem tiver a assinatura digital, o site exibirá a data, local, nome do fotógrafo e outras credenciais, porém, se uma imagem foi criada com inteligência artificial ou adulterada, a ferramenta Verify a sinaliza como ‘Sem credenciais de conteúdo’. E a Sony especificamente também está estudando aplicar esse certificado em vídeos gravados com suas câmeras. Quer mais? Google, Hitachi e Intel estão também na jogada de separar joio de trigo e atestar real versus virtual. Minha maior dúvida! Acho muito louvável que essas empresas estejam garantindo relevância a seus produtos (quem vai pagar uma nota por uma câmera profissional se pode gerar a imagem no computador, pensou elas) e estão dando um fact-checking nas imagens que caem na mídia. Ainda não existem tantos detalhes sobre toda essa estratégia dos fabricantes e como tudo vai funcionar, mas uma coisa não foi explicada em lugar nenhum. Como fotógrafo posso garantir, sem a menor vergonha, que todas as fotos que tiramos passam por algum ajuste no Lightroom, Photoshop ou o programa de edição de sua preferência. Estou falando de pequenas alterações em luz, cor, contraste, eliminação de pequenos detalhes (eu odeio quando sai interruptor de parede nos retratos que faço e elimino todos), entre outras cosias. Isso vai tirar o certificado de autenticidade da foto? Ela se torna irreal? Lembro que muito antes da editoração eletrônica esses ajustes já eram feitos e, para provar (no melhor estilo Omo faz, Omo mostra) coloco abaixo uma foto tirada em 1957 pelo grande Bob Henriques mostrando Martin Luther King de costas e o hoje lendário fotógrafo francês Henri Cartier-Bresson de frente, com as indicações de alteração na original e a foto depois do ajuste. E mais, o fact-checking é muito importante para empresas de mídia responsáveis, mas para websites e redes que já divulgam fake news, isso não vai fazer diferença alguma. Quer mais nó na cabeça? De alguma forma os celulares – que hoje conseguem fazer fotos de impressionante qualidade e são usados nas empresas de mídia (sérias ou não) para gerar matérias e fotos precisarão ter essa codificação de autenticidade também, não é? Enfim, a batalha está apenas começando! E que a Força esteja com conosco!
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