Minha primeira formação profissional é administração de empresas com foco comunicação e marketing e, desde 2010, me dediquei a trabalhar para Ongs. Achei que era muito mais recompensador trabalhar para ajudar pessoas do que fazer acionistas mais ricos. E, nessa brincadeira, me vejo trabalhando em 2018 com a estilista Martha Medeiros, em sua ação social no sertão da Paraíba. Explicando, Martha que ficou famosa com sua moda de alto padrão toda baseada em rendas nordestinas, ajudou muita rendeira com um salário bem acima da média e reforma de casas, abertura de poços artesianos, entre outras coisas. E lá fui eu tocar esse negócio.
E em janeiro daquele ano, me vejo na cidade de Monteiro (a maior em extensão na Paraíba, mas cerca de 70% do município é em zona rural) e descubro que não chovia dois dias seguidos lá por nove anos. Conheci gente que tinha água na cisterna de uma chuva que tinha acontecido seis anos antes.
E, entre entrevistar pessoas, verificar suas condições de existência, e percorrer muitos quilômetros de estradas de terra, eu clicava o que via.
E sabe o que eu vi? Gente encantadora e muito resiliente, os pores do sol mais lindos da minha vida e uma poesia na aridez. Como eles dizem por lá, a gente tem que conviver com o semiárido e sim, dá para se achar beleza no lugar.
Fui quatro vezes para lá. Na segunda, choveu tanto que perdemos a placa do carro numa estradinha. E na última, pude fazer meu trabalho mais recompensador em todos esses anos: entregar um Playground numa escola de zona rural do sertão da Paraíba.
O sonho da Martha era fazer um parque para as pessoas de lá relaxarem e passearem, mas tudo é distante no sertão e as crianças não conseguiriam usufruir do lugar. Não teriam como ir.
E aí veio a ideia: dar o parque a uma escola.
Escolhemos a Escola José Belarmino de Campos, um lugar que atendia várias comunidades sertanejas na zona rural de Monteiro e que tinha no seu time, uma das professoras mais incríveis que já vi. O pouco que material que ela recebia, conseguia multiplicar por 10. Ela seria a única escola, de quatro idades da região, que teria essa distinção do playground.
E aí foi papo com Secretaria da Educação, prefeitura e na busca por um doador, encontrei a Lao Engenharia que topou dar o parquinho de presente (o Lao, dono da empresa, foi comigo para lá em abril e voltou encantado com o que viu e aí a doação que era de um brinquedo, virou um parque completo).
Na semana do feriado de 15 de novembro fomos montar a coisa toda com um monte de voluntários locais. Esses caras e suas esposas foram tão especiais e tão incríveis, trabalhando de graça sob o sol inclemente, que me fez lembrar (pasmem) de Shakespeare e o discurso de Henrique V : “Nós, estes poucos; nós, um punhado de sortudos; nós, um bando de irmãos… Pois quem hoje derrama seu sangue junto comigo passa a ser meu irmão”. E acredite, teve um cara que derramou sangue mesmo num acidente de trabalho.
A inauguração no feriado da República foi uma emoção só. Teve festa, discursos, músicas, homenagens, hino nacional COMPLETO – e descubro que as pessoas da Paraíba sabem a letra toda- e tudo o que tínhamos direito. Mas o que nos pegou mesmo foram as crianças enlouquecidas de alegria por poderem, finalmente, brincar. Você consegue imaginar crianças fazendo fila para ir num escorregador de 1,5 metro de altura. Pois é. Nós na cidade grande nem pensamos nisso.
Aquele foi meu último trabalho para Martha, e foi uma das coisas mais lindas eu já fiz na vida. E mostro abaixo um pouco dessa alegria! Em breve mostro mais das minhas peregrinações no sertão.
